VIVA TEREZA DE BENGUELA, VIVA AS
MULHERES NEGRAS LATINAS E CARIBENHAS!
MULHERES
NEGRAS NÃO PAREM DE LUTAR!
Por Benedita Alves
Imagem: Andressa Almeida
No Brasil e no mundo, mulheres negras
revolucionárias sempre estão balançando e rompendo com estruturas da opressão
racista. O legado de nossas ancestrais ecoa com força em mais um 25 de julho.
Desde 1992, há exatamente 28 anos, um grupo de mulheres negras, que não se
sentiam representadas pelas políticas e falas do feminismo branco, realizou na
cidade de São Domingos, na República Dominicana, o Encontro de Mulheres Negras
Latinas e Caribenhas, onde também nasceu o Dia Internacional da Mulher Negra
Latina e Caribenha.
Hoje é um dia de luta Internacional, um dia especial, um símbolo que
nossas companheiras latinas e caribenhas construíram para nos armar, inspirar e
poder seguir a luta. Nossa griot Teresa de Benguela
homenageada desde 2014 no 25 de julho, por sua coragem e determinação no
enfrentamento ao sistema colonial escravocrata, liderou por duas décadas o
Quilombo do Piolho ou do Quariterêre, atual cidade de Cuiabá.
Uma líder, sem dúvidas. Criou um parlamento local, organizou a
produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a
fabricação de tecidos vendidos nas vilas próximas. Seu exemplo de
resistência nos enche de orgulho e admiração.
Hoje em dia, milhões de Terezas lideram suas casas,
lutam pelo pão de cada dia para si e seus filhos, enfrentam o quartinho da
empregada e o elevador de serviço pra receber 70% menos do que uma mulher
branca, de acordo com dados do IPEA de 2016. Nós, mulheres negras,
sofremos com o sexismo e a hipersexualização dos nossos corpos, somos as
maiores vítimas de violência obstétrica, abuso sexual e homicídio – de acordo
com o Mapa da Violência 2016, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54%,
enquanto os homicídios de brancas reduziram em dez anos no Brasil. Em nosso
Estado (Amapá), a juventude periférica enfrenta a mira do racismo policial dia
após dia e, assustadoramente, É A POLÍCIA QUE MAIS MATA NO BRASIL.
A griot Lélia Gonzalez denunciou em
1982 o “Lugar de Negro” que antes vivia nas senzala às favelas, cortiços,
porões, invasões, alagados e conjuntos habitacionais dos dias de hoje. No
Brasil e no mundo, gente rica tem espaço amplo, proteção, natureza, alimentação
de qualidade, saúde, acesso a variados bens culturais, informacionais,
profissionais, enquanto o povo negro amarga seu “exílio na periferia” e as
políticas do péssimo ensino. Divisão de raça e classe. Na mesma trincheira
estão nossas parentes lutando há mais de 500 anos contra a colonização de suas
crenças, modos de vida, por seus territórios e pela floresta em pé. A carne
mais barata, como protestou nossa mestra Elza Soares, é a que vai de graça pro
subemprego, pra prisão e pro hospital psiquiátrico.
E por isso lutamos!
A população negra vem crescendo em nosso país nos
dados do IBGE. Segundo este instituto, desde 2015 brancos não são a maioria
(nunca foram). Nós já sabíamos que o processo de branqueamento afasta a cultura
negra e indígena das crianças seja na escola, TV, revistas, igrejas
convencionais, etc. Isso vem mudando? Sim, mas não podemos comemorar. Na escola
ainda se reforçam estereótipos de negro ladrão, a mulata morena e o índio
preguiçoso. Por que será que não se identificavam antes? Afinal de contas, quem
quer ser reconhecido por isso?
O racismo é sustentado pelo padrão branco
dominante, sofremos violências em sequência, mas estamos aqui para falar das
negritudes e etnias marginalizadas. Na América Latina e no Caribe, 200 milhões
de pessoas se identificam como afrodescendentes, segundo a Associação Mujeres
Afro, em 2016. A ONU afirma que dos 25 países com os maiores índices de
feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe.
O dia de hoje é sobre tudo isso, era isso que
nossas ancestrais latinas e caribenhas estavam falando. Elas disseram que
estavam sofrendo e estavam denunciando a violência histórica do Estado e o
feminismo racista. Quando Victoria Santa Cruz, afroperuana multiartista
intelectual, lançou para o mundo o poema e performance “Gritaram-me Negra”,
alertou o quanto o racismo pode nos fazer cair, nos fazer recuar, retroceder,
gerando sofrimento e estranhamento dos nossos corpos desde criança. Mas ao mesmo
tempo gritou que ser Negra! não era aquilo que o branco falava. E reinventou o
que é ser Negra! A dor deve se tornar
luta contra o sistema capitalista e nossa história de resistência, orgulho!
Não desiste negra, não desiste!
1 - Na África
Ocidental o griot é uma pessoa que tem por vocação preservar e transmitir as
histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo.
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